Os perigos das fake news na saúde mental

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O que podemos entender por fake news?

Podemos definir fake news como conteúdo falso produzido, deliberadamente, para imitar notícias legítimas e convencionais, de modo a induzir o público a acreditar que são informações verdadeiras pela forma subtil que são apresentadas.

Neste universo, podemos incluir notícias falsas, rumores, mitos, teorias da conspiração, embustes, bem como conteúdos enganosos ou errados.

As fake news são tão antigas como a própria guerra. Por exemplo, reza a história que a 15 de Abril de 1861, três dias após o início da Guerra Civil Americana, foi publicado um artigo no New York Herald, segundo o qual o corpo de George Washington tinha sido removido do seu túmulo e levado para as montanhas da Virgínia para lá ser enterrado.

Dado o clima político tenso da época, esta forma precoce de isco estimulou a venda de mais jornais, mas também serviu para aumentar a inquietação social.

O digital revolucionou a informação?

O aumento de fake news tem vindo a tornar-se numa questão mundial. Apesar das notícias falsas não serem, de todo, novidade, assumem agora maior preocupação devido à popularidade dos meios digitais, ao permitirem uma mais rápida difusão e por tempo indeterminado.

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Mostra a investigação que as notícias que evocam emoções de elevada ativação, como por exemplo, o espanto, a raiva ou a ansiedade, são mais virais nas redes sociais.

De facto, os utilizadores dos meios digitais podem avançar ideias ou difundir notícias através de ações, gostos ou partilhas. Estamos invariavelmente expostos a um tipo de informação incontrolável, especialmente notícias que vêm de autores, fontes ou projetos independentes. Foi demonstrado que, apesar dos esforços, as redes sociais são um dispositivo influente para a divulgação de uma grande quantidade de conteúdos não filtrados, agravando a possibilidade de manipulação da perceção da realidade do público, através da divulgação de fake news.

Nos últimos meses, a mais notável partilha de fake news tem sido no contexto da Covid-19, apesar das suas repercussões negativas para a saúde. Isto apoia uma visão crescente de que o conteúdo falso se tornou mais pronunciado nas redes sociais.

Mas porque partilhamos conteúdos cuja veracidade desconhecemos?

Ainda que a criação de fake news possa ser altamente intencional, a sua partilha já não.

Estudos recentes a propósito da Covid-19 mostram que as pessoas podem redistribuir conteúdos falsos com a intenção de ajudar e alertar os outros. Ou seja, o altruísmo, enquanto tentativa de ajudar terceiros, foi considerado como um forte indicador da partilha de fake news relacionadas com a Covid-19. Tenha-se também em consideração que as pessoas têm maior probabilidade de partilhar informações provenientes de um amigo, pelo que se inicia uma espécie de bola de neve.

Sabe-se também que as pessoas circulam histórias falsas pela necessidade de partilha de informação e não apenas pelo mero entretenimento.

Apesar destas boas intenções, a divulgação de notícias falsas sobre saúde pode pôr em risco a segurança das pessoas, potenciando falsas medidas de precaução que conduzem a graves danos.

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Investigações recentes demonstraram que à medida que os casos da Covid-19 aumentam em todo o mundo, tem surgido também uma onda de fake news. Isto sugere que muitas pessoas procuram informações online sobre como lidar com o vírus.

Por sua vez, o cérebro tem uma tendência natural para se meter em atalhos e, como diz o povo, quem, na procura de fazer o menor esforço possível, se mete em atalhos, mete-se em trabalhos. Ou seja, quanto mais fácil vem à mente uma resposta, maior a probabilidade de a mesma determinar a decisão.

A este atalho mental chamamos de heurística da disponibilidade, um processo cerebral em que a mente humana define a probabilidade de um evento acontecer a partir da facilidade com que se lembra de uma situação similar ter acontecido no passado.

Adicionalmente, fruto de um realismo ingénuo, muito do que é visto ou ouvido é ambíguo e os humanos tendem a tentar dar sentido às coisas para que possam sentir um maior controlo sobre o seu ambiente.

É também importante referir que, como todos os seres humanos, os jornalistas prestam mais atenção à informação que confirma as suas próprias atitudes e crenças do que a informação que, por oposição, as infirma. Assim, as decisões noticiosas tendem a ser influenciadas pelas suas próprias crenças, ou pela corrente do que outros jornalistas estão também a publicar.

Quando é apresentado algo que não compreendemos, enquanto seres humanos, sentimos que uma resposta errada pode ser melhor do que a ausência de qualquer resposta. Em vez de tolerarmos a incerteza, tendemos a preencher as lacunas, mesmo que isso resulte em preencher com informação incorreta. Um modelo incorreto do mundo parece fazer-nos sentir melhor do que não ter nenhum modelo.

Qual o impacto das fake news?

Uma vez que as fake news têm como objetivo final manipular a opinião pública, provocam uma resposta emocional no leitor e, por isso, podem suscitar sentimentos de raiva, desconfiança, ansiedade e mesmo sintomas depressivos, distorcendo a perceção da realidade. A investigação aponta o constante consumo de informação noticiosa, sobretudo quando proveniente de fontes menos credíveis, como um importante fator explicativo de preocupação.

Por sua vez, reconhecer ou perceber as fake news como informação falsa pode também suscitar sentimentos de raiva e frustração, especialmente se o leitor se sentir impotente perante as circunstâncias suscitadas pelo tema.

É certo que o facto de os estímulos individuais variarem de pessoa para pessoa interfere na intensidade com que as consequências podem ser sentidas e manifestadas.

Com tanta desinformação a ser publicada como verdade, o autor Steven Stosny avançou com o termo perturbação do stresse do título da notícia (“headline stress disorder”). Ou seja, para muitas pessoas, os alertas contínuos de fontes noticiosas, particularmente menos credíveis, como blogs, resultam em sentimentos negativos como ansiedade, desespero e tristeza.

Neste sentido, verificou-se que as fake news relativas a questões de saúde, como sucede na pandemia, constituem uma ameaça para a saúde pública, razão pela qual o crescimento explosivo da partilha de fake news requer uma ampla investigação.

Qual a melhor forma de lidar com as fake news?

Esta nova era de notícias falsas não parece estar a desaparecer, mas temos o poder de questionar e nos adaptarmos.

É necessário cuidar de nós mesmos e evitar a exposição a informação não apropriada e não confiável, com notícias falsas ou notícias carregadas de sensacionalismo e em experiências não baseadas em dados reais. Acompanhe os factos e não os rumores e a desinformação.

A recomendação da EMDR Europa passa por escolher dois momentos por dia para receber atualizações de notícias, optando por um ou dois canais de informação credíveis para o fazer.

As redes sociais estão inundadas de informação, nem sempre verdadeira, bem como de opiniões, nem sempre sensatas e muito menos informadas ou fundamentadas em evidência científica. Muitos se levantam como especialistas das mais diversas áreas, ignorando depois as diretrizes e as recomendações provenientes das entidades oficiais.

O pensamento crítico consiste em examinar e avaliar a informação que recebemos. Contudo, temos de estar conscientes de que esta apreciação será influenciada pelas nossas motivações pessoais, tais como crenças, suposições e experiências, e também pelo designado enviesamento confirmatório, em que tendemos a valorizar apenas aquilo que confirma nossa posição e ignorar o que lhe é contrário. Por isso, na dúvida, questione.

Para desenvolver esse pensamento crítico, pode realizar algumas perguntas, tais como:

Podem ser dados mais pormenores?

Pode ser dado um exemplo ou uma demonstração?

Como posso verificar essa informação?

Como podemos olhar para isto de uma perspetiva diferente?

Qual a origem da informação?

Quais as credenciais do emissor da informação?

A fundamentação da informação é baseada em método científico?

Esta situação/condição pode ser duplicada ou é coincidência?

VEJA TAMBÉM:

► A PÁGINA DESAFIOS DA MENTE

O árduo trabalho de proteger a Wikipedia das fake news

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Como uma obra coletiva, que dá a centenas de milhares de usuários o direito de alterar conteúdos, resiste a uma das tendências mais retrógradas do século XXI? A equipe que protege o verbete “Aquecimento Global” ajuda a encontrar a resposta

Por Laura Scofield, na Agência Pública

Eles não se conhecem para além do primeiro nome, nunca se falaram pessoalmente, mas trabalham juntos há anos protegendo do vandalismo a página sobre “mudança climática” da maior enciclopédia pública da internet.

Um grupo de sete editores é o maior responsável pelo verbete ser considerado como um dos melhores da Wikipédia em inglês. O grupo é liderado pela incansável holandesa Femke Njisse. “Eu sei os nomes deles, mas nunca vi ninguém pessoalmente”, contou à Agência Pública.

Femke pesquisa assuntos relacionados ao clima na Universidade de Exeter, Reino Unido, e começou a editar a enciclopédia por considerar as páginas desatualizadas ou com “muito espaço” para a “negação do clima”.

“Ela edita quase todos os dias. É quem realmente mantém a página funcionando e avançando”, afirmou à Pública o também editor David Tetta.

Há alguns meses, Tetta identificou uma tentativa de vandalizar o artigo: um editor de esportes havia escrito que a “mudança climática é uma farsa”, logo no início da página. Os ataques já foram tão frequentes que a Wikipédia protegeu o verbete, estabelecendo restrições para editá-lo.

O verbete protegido tem mais de 57 mil caracteres e foi visitado 393.333 vezes nos últimos 90 dias, com média de 4.322 visitas diárias. Em 2019, o total de visualizações do artigo passou de 1 milhão e meio. Desde julho de 2015 foram contabilizados mais de 7 milhões de acessos às páginas.

Além dele, há mais de 2 mil verbetes sobre temas relacionados que são editados por 42 voluntários reunidos no WikiProject Climate Change, uma plataforma de trabalho colaborativo. Lá se determinam regras, prioridades e forças-tarefa como a africana “Africa Task Force”, que aborda mudança climática focalizando as relações com o continente.

Criada em 2001, a Wikipédia é uma enciclopédia on-line e pública que existe em mais de 300 línguas. São os editores voluntários que decidem todas as regras, sejam de convivência interna ou edição dos artigos. Como afirma seu lema, “todos podem editar”, e o que guia a tomada de decisões é o consenso entre seus editores.

“Trump vai passar, a Wikipédia fica”

A holandesa Femke virou editora da Wikipédia há sete anos, ajudando a melhorar artigos sobre a participação feminina na ciência. Sua primeira edição sobre mudança climática foi uma atualização: em 9 de março de 2014, corrigiu uma informação que afirmava que o Protocolo de Kyoto expiraria em 2012. Ela atualizou a página, afirmando que a medida que buscava redução das emissões de gases-estufa já havia expirado.

As edições foram se tornando cada vez mais constantes – tanto que ela já modificou 19% do verbete. “Gasto tempo demais”, confessa, entre risadas, à Pública. “Eu mais frequentemente corrijo informações e me certifico de que tudo está conciso”, descreve.

“A mudança climática é uma das maiores ameaças ao mundo de hoje. É algo que deixa as pessoas ansiosas, que já está ocorrendo, e existem pessoas com muito dinheiro lutando contra”, diz o engenheiro David Tetta, que iniciou sua atuação no verbete há cerca de um ano e meio. Tetta trabalhou por mais de 34 anos na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) e já ministrou aulas na Universidade de Washington sobre o tema. “As possíveis consequências são catastróficas”, resume.

Já Marcelo*, que preferiu não ter o nome completo publicado, foi sucinto ao descrever suas motivações: “O Trump vai passar, mas a Wikipédia fica”. Ele atua na Wikipédia desde 2009 e afirmou ter feito mais de 12 mil edições.

“Eu espero que a Wikipédia convença as pessoas de que alguns políticos, como Trump, Bolsonaro e outros, estão simplesmente errados. As pessoas influenciam o governo, e a ação do governo é necessária para reduzir a mudança climática”, falou à reportagem.

“Quase todos os editores da página são muito inteligentes, cuidadosos e respeitosos. Muitos têm base científica e técnica. Desacordos são quase sempre civis. Ocasionalmente surge um editor irracional, mas eles não ficam muito tempo”, diz Marcelo.

Femke segue a mesma linha: “A equipe está realmente interessada em trabalhar em conjunto. Se discordamos sobre algo, é sempre uma discussão muito racional, sempre seguimos as regras de como decidir as coisas”.

Vandalismo

“Eu entrei lá e deletei”, contou Tetta sobre o ato de vandalismo e negacionismo climático que encontrou na página no último ano. A afirmação “global warming is a hoax” [o aquecimento global é uma farsa] havia permanecido por algumas horas, e foi possível mesmo com a proteção do artigo, já que o então vândalo era um editor frequente de outros verbetes da Wikipédia.

O caso recente mostra que mesmo as restrições da enciclopédia podem deixar passar ataques. Em um artigo semiprotegido como o “Climate change”, só conseguem editar usuários com contas criadas há no mínimo quatro dias e ao menos dez edições feitas, o que reduz o vandalismo, mas não o barra completamente.

A proteção foi instituída justamente para impedir os ataques, como contou Femke: “Se você olhar no histórico, para o que a página era em 2008, você pode ver que era horrível e existia muita negação do clima e muitas discussões nada civis”, explica. Hoje as medidas de proteção e a existência de uma “comunidade vibrante” tornam o vandalismo “raro” na página principal.

Na Wikipédia em português, as páginas de Jair Bolsonaro, Golpe de Estado no Brasil em 1964 e Guilherme Boulos estão protegidas; as biografias de Lula e Dilma, por exemplo, não. A proteção impera também no verbete “Aquecimento global”, o principal em português que trata do tema climático.

A enciclopédia colaborativa tem também outras medidas que visam impedir o vandalismo, como a utilização de robôs, além da política de bloquear usuários anônimos e contas que incluem erros deliberadamente. Alex Stinson, da Wikimedia Foundation, estima que entre 85% e 90% dos ataques são identificados por softwares da companhia.

“Na maior parte do tempo, o vandalismo é percebido em pouco tempo. Quanto mais destacado é um artigo, mais pessoas o acessam, vigiam e editam, então é mais fácil reverter”, contou o representante. Porém, em páginas menos vigiadas, os atos podem permanecer por dias.

O empenho dos editores é motivo de orgulho para a Wikimedia Foundation, que gerencia a enciclopédia colaborativa. “Nossos voluntários são alguns dos mais apaixonados e precisos compartilhadores de conteúdo que poderiam ser encontrados”, afirmou à Pública Stinson.

A página “Climate change” já foi editada 24.666 vezes, por 5.042 editores, voluntários desde que foi criada, em 2001. Em dezembro, 30 editores modificaram o artigo 261 vezes.

Na seção de perguntas frequentes do artigo, pelo menos 17 entre 24 questões duvidam dos fatos e da responsabilidade humana sobre o clima. “Existe realmente um consenso científico sobre as mudanças climáticas?”, é a primeira pergunta.

“Sim”, respondem enfaticamente os editores.

O maior editor no Brasil

A Wikipédia em português, que inclui público de países como Brasil, Angola, Moçambique e Portugal, tem mais de 1 milhão de artigos.

A página “Aquecimento global” foi visitada 91.183 vezes nos últimos três meses, o que gera uma média diária de 1.002 visualizações. Em 2019, contabilizou mais de 810 mil acessos.

Ricardo André Frantz, que assina como Tetraktys, é o principal editor do artigo em português, responsável por 64% das edições e mais de 50% do volume de texto de quase 150 mil caracteres. “O artigo do aquecimento global foi visitado nos últimos 12 meses por mais de 490 mil pessoas! Qual professor ou pesquisador ou palestrante tem acesso a um público como esse?”, pondera.

Ele considera que “a ciência tem sido posta em xeque pelo governo, cujos principais representantes, junto com boa parte da bancada do Congresso e nos legislativos e executivos estaduais e municipais, são negacionistas do problema climático”, o que também o motivou a editar.

Em português, “Aquecimento global” é artigo destacado e protegido, como “Climate change”. Quem busca o tema na Wikipédia lusófona, portanto, sai com uma visão baseada nas evidências científicas e pouco espaço para o negacionismo, segundo concluiu o pesquisador Bernardo Esteves, que analisou os verbetes relacionados aos temas de mudança climática na Wikipédia em português.

Nem sempre foi assim. Quando Frantz começou a editar, “[o artigo] sofria muito vandalismo por editores anônimos, que tentavam impingir uma relativização indevida dos fatos. Ou apresentavam o tema como uma simples teoria sem comprovação, ou o negavam de todo”, segundo ele lembra.

Agora, o maior perigo é que dependemos da boa vontade dele. “E se o Tetraktys perder o interesse, desistir de editar a Wikipédia, ou algum motivo qualquer, será que aqueles artigos vão continuar bons daqui a uns dois anos? Será que alguém vai pegar essa função?”, questiona Esteves. A Wikipédia em inglês tem 12 vezes (129,081) mais contribuintes do que a lusófona (10.527).

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GPT-3: será que a IA escritora mais poderosa do mundo substitui um jornalista?

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Em meados do ano passado, o modelo de linguagem escrita por inteligência artificial (IA) GPT-3 impressionou muita gente na internet com seus textos variados e ricos em vocabulário, escritos sem qualquer intervenção do homem após os primeiros comandos.

O sistema, desenvolvido pela OpenAI, empresa de pesquisa e desenvolvimento em inteligência artificial cofundada por Elon Musk (que se afastou para cuidar melhor da Tesla e da SpaceX), tem base em machine learning e, graças a um dataset de 175 bilhões de parâmetros, pode escrever os mais variados tipos de textos, sob os mais variados gêneros e assuntos. A linguagem vem para substituir a já aclamada GPT-2, que tinha 1,5 bilhão de parametros e foi lançada em 2019.

O Canaltech entrou na fila para conseguir acesso ao GPT-3, já que depois de publicada, a pesquisa concedeu acesso apenas a membros selecionados. Ainda não conseguimos, provavelmente por estarmos no Brasil, mas com a ajuda do programador Gabriel Cantarín, CTO na GEN.shop, que conseguiu o registro e colaborou para que esta matéria chegasse até o leitor, conseguimos brincar bastante com a IA escritora.

O cérebro eletrônico faz tudo ou quase tudo? (Imagem: Gerd Altmann/Pixabay)

Como funciona?

Toda inteligência artificial funciona porque um humano “ensinou” ao algoritmo como ele deve proceder, inputando alguns comandos para que, depois de determinado tempo, ele mesmo consiga se virar e criar resultados. No caso do GPT-3, uma série de informações foi inserida por programadores humanos para “ensinar” ao algoritmo como ele deve escrever os textos.

A partir de então, a coisa anda sozinha graças ao machine learning, ou seja, o aprendizado de máquina — o próprio sistema aprende com os dados que lhe foram “ensinados” e cria, a partir de uma série de frases, termos e palavras, textos completos, cheios de sentenças, frases e períodos que facilmente passam como se tivessem sido escritos por um jornalista, redator ou escritor.

No caso do GPT-3, vale pontuar que é um sistema baseado em NLP (processamento de linguagem natural) e que, antes de ser lançado, a detentora do modelo de linguagem mais poderoso até o momento era a gigante Microsoft. Ela possuía um modelo com 17 bilhões de parâmetros e que era considerado incrível. Hoje, se comparado ao GPT-3, esse modelo tem apenas 10% de seu poder de fogo.

Conversando com Cantarin sobre o potencial dos algoritmos no GPT-3 e o número absurdo de parâmetros, questionamos como é que homens e algoritmos conseguem chegar a tantas referencias para desenvolver uma IA escritora. “Essa é a grande diferença entre um algoritmo tradicional e uma inteligência artificial”, explica o programador. “Os algoritmos tradicionais funcionam para resolver alguns problemas definidos, por exemplo: se estiver com previsão, enviar notificação avisando às 8 am. Porém, para alguns tipos de problemas abstratos, isso é muito mais difícil. Como escrever um algoritmo que reconheça uma laranja (fruta)? Se tiver a cor laranja e for redondo é uma laranja? Não, pois poderia ser uma bola de basquete. Mas, e se a foto estiver em preto e branco? E se a laranja estiver cortada no meio? Literalmente, a inteligência artificial vem para resolver esses problemas com outros tipos de algoritmos que trabalham de uma forma diferente, sem que os programadores precisem ficar escrevendo cada um dos casos individualmente”, continua, mencionando o aprendizado de máquina.

Um emaranhado de códigos e parâmetros que vai aumentando por aprendizado de máquina: essa é a essência da IA (Imagem: Ali Shah Lakani/Unsplash)

Se você quiser mandar a IA escrever um texto baseado em linguagem estruturada, pode dar muito certo. Isso é essencial para, por exemplo, ensinar chatbots a atenderem clientes de uma empresa, seja no Messenger, no Instagram ou até mesmo no Telegram ou WhatsApp. Dá, inclusive, para usar o GPT-3 para escrever um livro inteiro, independentemente do tema. Escrever códigos, criar sites, prototipar layouts, programar aplicativos e até mesmo compor músicas são tarefas que a IA desempenharia muito bem.

Tudo funciona, desde que o objetivo seja simples e o resultado seja revisado por um humano. “Em geral, são aplicações simples e que não precisam de um nível de confiabilidade tão alto”, explica Gabriel. “Por ainda estar em fase BETA, a maior parte das aplicações são como estudo para se checar o potencial, como, por exemplo, automatizar a geração de gráficos ilustrativos ou escrever tweets para uma empresa com base em um contexto já definido”, completa. Aliás, vale lembrar que a própria OpenAI descreve nos termos de uso que não se pode utilizar do serviço deles em áreas com conteúdos sensíveis, como medicina.

Recursos linguísticos

No jornalismo, temos que nos atentar a vários recursos que tornem o texto atraente, a leitura fluida e a informação clara. Para isso, utilizamos de ferramentas gramaticais e linguística que nosso idioma nos oferece, para que a narrativa seja natural e livre de dúbias interpretações. Quando lançado, o GPT-3 impressionou pela riqueza de recursos empregados nos textos, mas achamos alguns deles um pouco exagerados.

Mesmo que a IA consiga fazer uma série de documentos textuais (e, além disso, pode inclusive programar sites, escrever roteiros e gerar códigos de programação), ela não é perfeita. Apesar de funcionar em português, é no inglês que a mágica acontece de fato, já que a maior parte do conteúdo que existe na internet está escrita em inglês. “Considerando que a principal fonte de parâmetros para treinar esse modelo foi um conjunto de artigos acadêmicos, científicos, dissertações de mestrado e teses de doutorado, e que, mesmo quando feitos por falantes de português, ainda assim escrevem esses artigos em inglês… é por isso que o número de parâmetros de português é extremamente inferior aos escritos em inglês”, disserta Cantarin.

Mesmo assim, decidimos colocar o GPT-3 à prova e, como jornalistas que somos, testaremos seu potencial para saber se o algoritmo de escrita por AI mais poderoso do mundo consegue ocupar o cargo de redator. Vamos, agora, brincar um pouco com ela e ver do que ela é capaz!

Mão na massa

Para ver a mágica acontecer, primeiramente é necessário ter uma chave de acesso. Infelizmente, a tecnologia não está disponível para todo mundo, e é preciso entrar em uma longa fila e aguardar para ser selecionado. Apesar de termos tentado muito, não conseguimos e precisamos da ajuda de um colaborador que, tendo conta nos Estados Unidos, teve acesso à ferramenta. Valeu, Gabriel!

Essa, então, é a cara da ferramenta.

Ao começar, o GPT-3 da OpenAI te dá algumas diretrizes para criar ou classificar conteúdos, ou então criar conversas, traduções e realizar buscas semânticas (Imagem: Captura de Tela/Canaltech)

Ainda em fase beta, a API conta com um “playground” onde você pode treinar seus próprios modelos para que eles produzam textos. É possível acessar o GPT-3 aqui (e entrar na fila).

Na aba Playground, é possível digitar um texto ali mesmo, online, submeter e esperar a IA fazer o resto. Você pode ajustar alguns parâmetros, como tamanho das “respostas”. Apesar de funcionar em inglês, o sistema também escreve em português — embora os resultados não sejam tão ricos quanto na linguagem original da plataforma. Infelizmente, os modelos treinados não possuem conhecimento atualizado, já que os dados foram inseridos até outubro de 2019, mas a equipe da OpenAI promete inserir mais treinamento à IA no futuro. O projeto segue firme, em outras palavras.

A API roda com base em algumas engines, e você pode escolher entre elas. São modelos treinados de machine learning para que o resultado seja o melhor possível. Ela é capaz de realizar uma variedade de tarefas diferentes. O chamado prompt é o texto que você digita e envia à API para que ela gere uma resposta. Tal resposta, chamada de “conclusão”, é o que a API pensa ser a continuação lógica do seu prompt. Um modelo bem escrito fornece informações suficientes para a API saber o que você está pedindo e como deve responder.

Segundo a plataforma, a melhor engine é a batizada de “davinci”. E é com ela que vamos brincar agora.

Importante comentar que, enquanto o texto é gerado, a plataforma pode sugerir cautela e pedir para que você não compartilhe o resultado nas redes sociais, uma vez que alguns prompts podem produzir resultados indesejados, com discursos tóxicos — afinal, a IA também erra, e erra feio.

Mas e aí, será que a IA substitui um redator humano? Será que ela sabe fazer jornalismo? Será que nossos dias na redação estão contados? Vamos gerar alguns modelos de notícias e ver como a IA se comporta.

O quão assustadora pode ser a resposta de uma IA quando perguntamos a ela sobre sua capacidade de nos substituir?

Modelo 1 – Tema: fake news

Aqui, nós escrevemos o título e o primeiro parágrafo (destacados em negrito) em português, para uma notinha simples. O GPT-3 fez todo o restante. Veja só:

Como evitar cair em fake news nas redes sociais Atualmente, estamos vivendo a era da informação digital. No entanto, nem tudo que aparece na tela do celular ou do computador pode ser levado a sério: precisamos estar atentos ao que é verdade, ao que foi manipulado e ao que é uma completa mentira ou desserviço. Precisamos saber reconhecer, com base em checagem de fatos e busca por fontes oficiais, o que é uma notícia falsa — ou, simplesmente, fake news. Em certos momentos, o que estamos lendo pode nos confundir, gerar dúvidas e até mesmo gerar medo dos fatos. Sem ter como identificar a veracidade, pode ser difícil saber como responder, mas a verdade é que não há motivos para ficar ansioso ou com medo: basta não acreditar em tudo que é publicado, procurar checar a veracidade das informações e, acima de tudo, não compartilhar ou alimentar o ódio. Quer saber mais sobre fake news? Veja aqui.

Modelo 2 – Tema: Elon Musk, Grimes e o bebê

Para falar de fofoca no mundo tech, o GPT-3 ainda precisa de mais treinos. Na realidade, sempre que a IA “sente” que está escrevendo alguma bobagem, ela gera um pop-up com um alerta, que pode te avisar sobre equívocos, informações inadequadas, tóxicas ou que promovam discurso de ódio. E pede para que nós, como membros beta, ajudemos a melhorar os dados para machine learning. Veja o resultado da “notícia”, escrita também em português, após escrevermos o primeiro parágrafo inteiro para “ensinar” a ela o tipo de assunto a tratar:

Depois de agitar as redes sociais, o casal Elon Musk e Claire Elise Boucher, mais conhecida como Grimes, mudaram o nome do seu filho. Antes, o menino se chamaria X Æ A-12, contudo, segundo a mãe, o estado da Califórnia obrigou que eles mudassem o nome da criança para poder registrá-lo. Assim, na certidão de nascimento o menino saiu como X Æ A-Xii. Em um post no Instagram, Grimes explicou que o estado da Califórnia obrigou que o nome da criança fosse alterado para que pudesse ser registrado. “A Califórnia está obrigando que o nosso filho tenha um nome, e ele tem que ter algum nome de família. Então, o nosso filho vai ser X Æ A-Xii. É uma pena”, declarou. O estado da irmã do bilionário Elon Musk é conhecido por seu sistema de nomes curiosos, já que em algumas cidades precisa ser registrado um nome antes de ser registrado o nome do bebê. Claire Boucher, Grimes, de 29 anos, ao lado do empresário Elon Musk, de 47, registrando filho no estado da Califórnia, EUA zoom_out_map 1 /12 Claire Boucher, Grimes, de 29 anos, ao lado do empresário Elon Musk, de 47, registrando filho no estado da Califórnia, EUA (Divulgação/Instagram/Elon Musik) Elon Musk, Grimes e filho X Æ A-Xii, de 1 ano, registrando no estado da Califórnia, EUA zoom_out_map 2 /12 Elon Musk, Grimes e filho X Æ A-Xii, de 1 ano, registrando no estado da Califórnia, EUA (Divulgação/Instagram/Elon Musik) Elon Musk e a mulher, Grimes, com o filho X Æ A-Xii, de 1 ano, em foto tirada no estado da Califórnia, EUA zoom_out_map 3

Aqui, percebemos que a IA se baseou em um dataset de notícias geradas na época do nascimento do filho do casal, e traduziu algum conteúdo em inglês para gerar o texto acima e tentou linkar alguma coisa relacionada ao mapa da Califórnia. Para os editores do Canaltech, essa notícia, escrita dessa forma, iria direto para o cesto de lixo.

Vamos ao próximo!

Modelo 3 – Tema: 5G no Brasil

Aqui, da mesma forma que nos textos anteriores, escolhemos um tema e digitamos o título e o primeiro parágrafo, e todo o restante foi feito pelo GPT-3. Um input interessante foi colocar perguntas no texto, para testar se a IA entende aquilo como um gatilho para gerar respostas e criar parágrafos. Aparentemente, deu certo, ressaltando que alguns trechos precisam de correções. Veja o resultado:

O que podemos esperar do 5G no Brasil? A poucos passos da implementação, será que o Brasil está pronto para lidar com o 5G? Essa pergunta, que envolve tanto empresas quanto consumidores, gera muitas dúvidas. O que podemos esperar da tecnologia? É preciso comprar um smartphone novo para usá-la? Qual a velocidade do 5G? E as operadoras, vão cobrar mais caro por isso? Como já respondido anteriormente, a tecnologia é mais uma evolução que vem para aumentar a velocidade e robustez da internet. O que muda são apenas os padrões de transmissão de dados que serão implementados. Como funciona o 5G Não é possível dar uma resposta definitiva sobre como funciona o 5G, pois ele ainda está em fase de testes. Mas o que se sabe é que a tecnologia promete mais velocidade, mais capacidade, mais resiliência, maior capacidade e maior possibilidade de coexistência. A resiliência é a capacidade de enfrentar interferências e o maior desempenho possível mesmo quando há interferências. É o mesmo conceito que esperamos dos celulares sem fio, que têm maior chance de funcionar mesmo que muitas pessoas estejam usando o mesmo sinal. Diferentes operadoras estão testando a tecnologia e, inclusive, compartilhando informações com o governo brasileiro para que a implementação seja bem sucedida. A Anatel, por exemplo, já está trabalhando no desenvolvimento de um novo padrão de frequência para o 5G, que será utilizado pelas redes das operadoras. Essa frequência será usada para a transmissão de dados móveis e fixos e, em breve, a Anatel pretende iniciar um processo de licitação para que as operadoras possam utilizá-la. Muitas empresas já estão testando a tecnologia no Brasil. A Vivo, por exemplo, já está em fase avançada de testes, mas as outras operadoras também estão trabalhando nessa área. Além disso, apesar de não ser possível dar uma estimativa de preço, não há motivos para se preocupar com o 5G. Isso porque ele vai funcionar na mesma frequência do 4G e, portanto, não será necessário investir em um novo smartphone. O que será diferente na comunicação O 5G vai permitir a suspenção de comunicações de forma mais rápida, além de solucionar problemas como latência e interferência, que impedem a conexão entre o celular e a rede. A velocidade é outro ponto importante. Como as redes serão mais rápidas, as conexões serão mais rápidas, o que torna o 5G uma tecnologia que vai facilitar a vida dos brasileiros e das empresas. Muitos ainda têm dúvidas sobre a velocidade do 5G. Muitas pessoas ainda acreditam que ele vai ser mais rápido do que o 4G e que isso vai afetar o funcionamento da internet. No entanto, isso não vai acontecer. Os dados criados na internet serão os mesmos e, portanto, não haverá grandes diferenças. A velocidade do 5G não vai afetar o funcionamento do 4G, que continuará sendo utilizado normalmente. Além disso, a maior velocidade do 5G vai facilitar o trabalho das empresas, que poderão reduzir o tempo de espera para o envio de dados e aumentar o desempenho do funcionamento das empresas. Uma das coisas que mais deve mudar com o 5G é a conexão a distâncias maiores. Por conta da maior velocidade das transmissões, há uma chance maior de que a conexão seja interrompida. Porém, com o 5G, a conexão será mantida e a transmissão de dados será menos afetada. Além disso, a tecnologia vai ajudar a diminuir os problemas com latência e interferência. Isso porque, como a velocidade é maior, a tecnologia vai conseguir enfrentar esses problemas com mais facilidade. Por fim, é importante destacar que a tecnologia vai facilitar a comunicação entre pessoas e empresas de uma maneira que jamais foi vista. Com a velocidade do 5G, todas as empresas podem aumentar seu desempenho e se tornar mais competitivas.

Percebemos que a IA saca muito mais de 5G que de fofoca sobre a família Musk-Grimes, confere? Alguns ajustes de revisão e formatação poderiam transformar essa escrita em um texto bacana.

Modelo 4 – Tema: pandemia da COVID-19

Por fim, desafiamos o GPT-3 a escrever uma notícia preditiva: quando a pandemia da COVID-19 vai acabar? Com base nesse questionamento, escrevemos apenas o título e a primeira frase do primeiro parágrafo. Todo o restante foi conduzido pela inteligência artificial — lembrando que, como o conjunto de dados que a alimenta ainda não foi atualizando em 2021, às vezes ela trata 2019 como “o ano passado”, já que está usando fontes de 2020. E o interessante foi que, além de usar aspas de médicos, ela também tentou traçou um paralelo entre COVID-19 e gripe, no quesito vacinas, mas se embananou e confundiu as duas doenças. Do meio para o final do texto, não sabemos mais se o coronavírus é o causador da COVID-19 ou da gripe comum. Veja só:

COVID-19: quando a pandemia vai acabar? Mesmo com a chegada de uma vacina comprovadamente efetiva contra o novo coronavírus, pode levar meses ou anos até que a sociedade volte à normalidade. Ângela Rocha, médica e pesquisadora da Fiocruz, diz que a variação no comportamento dos surtos de gripe tem fascinado a comunidade médica. “Eles começam com uma elevação de mortalidade, mas depois vão diminuindo. A gente não sabe muito bem por que isso acontece”. Nesse sentido, os cientistas se dividem. Alguns defendem o fim da pandemia até o fim deste ano, mas outros esperam até o próximo ano. É o caso de Derek Smith, pesquisador da Universidade da Califórnia. “Não há razão para pensar que a epidemia vai acabar tão rápido”, diz. Para ele, a nova onda de gripe vai ficar mais agressiva no segundo semestre. “Eles [os vírus] podem ter evoluído para se tornarem mais agressivos”. Smith não tem dúvida de que o surto de gripe 2009 vai levar o mundo a uma nova era de vacinação. “Uma vez que a vacina mostrou que é efetiva, e que o vírus não escolhe quem vai infectar, acho que mais de 80% da população mundial vai ser vacinada.” É uma aposta. Os surtos de gripe da última década mostraram que a vacinação contra a doença pode, sim, reduzir significativamente os casos de gripe. Mas não é o bastante para eliminar a doença. Como tudo na medicina, a vacinação é uma questão de equilíbrio. Se as pessoas não estiverem vacinadas, o vírus pode se tornar mais agressivo, porque não há um grande número de infectados para impedir o seu crescimento. Mas se a população for excessivamente imunizada, a vacina não vai funcionar e o vírus vai se espalhar facilmente. Vacinação contra o novo coronavírus Cientistas e governos agora têm uma segunda chance para encontrar uma vacina eficaz contra a gripe. A primeira chance foi em 1976, quando o novo coronavírus entrou no mundo. Com um novo vírus parecido com a gripe suína, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta e se preparou para uma pandemia. Mas o surto não aconteceu. Em 2002, o vírus reapareceu na Europa. Os especialistas ficaram de alerta, mas o número de casos foi pequeno. E seu comportamento foi diferente daquele que se esperava. Ele não foi ficando mais agressivo ao longo do tempo, como a gripe suína. No ano passado, o novo coronavírus voltou a assustar a comunidade internacional de saúde. Em outubro daquele ano, a OMS declarou uma pandemia da gripe do tipo A. E no final de maio deste ano, a OMS reduziu a importância do surto e retirou as medidas de controle e prevenção da gripe do ano passado. Apesar da semelhança com a gripe suína, o novo coronavírus tem uma característica peculiar: ele parece infectar muito mais os idosos do que os mais jovens. O Brasil tem registrado ocorrências muito mais graves em idosos do que em crianças e adolescentes. Além disso, a maioria dos casos de surtos de gripe no mundo, incluindo o Brasil, não teve nenhum caso de morte. “Parece que o vírus causa uma gripe mais grave e piora mais rápido os doentes”, afirma a médica. O comportamento diferente do surto da gripe 2009 torna mais difícil prever quando ele vai acabar. “Eu acho que isso vai acabar quando o vírus se tornar apenas uma ameaça e não um perigo real”, diz Smith. O vírus pode não ser a única causa dos surtos de gripe. Segundo Smith, os surtos de gripe podem ser acompanhados por outras doenças. “Eu acho que vai acabar quando a gripe não for mais matar muitas pessoas.” Se o surto de gripe vai acabar este ano ou não, não há como saber. Mas uma coisa é certa: o novo coronavírus vai se tornar uma ameaça permanente para a humanidade. “O vírus vai continuar circulando e a gente vai ter que nos prevenir contra ele por muitos anos”, diz Smith. Vírus e vacinas Há pouco tempo, a vacina era a única opção para se proteger contra a gripe. Mas agora que o mundo tem uma vacina eficaz contra o novo coronavírus da gripe, as coisas mudaram. Agora, dizem os especialistas, a melhor proteção contra o novo coronavírus é a vacina. No ano passado, a OMS aprovou uma vacina contra a gripe. Ela agora pode ser usada para impedir que as pessoas se infectem com o novo coronavírus. Quando o surto de gripe começou no ano passado, a vacina era importada dos Estados Unidos e custava US$ 150 (R$ 300). Agora, a vacina está sendo produzida no mundo inteiro, inclusive no Brasil, onde a Sanofi Pasteur é a única empresa fabricante. A vacina contra o novo coronavírus vai proteger a população contra a gripe por três anos. E a OMS diz que a vacina é eficaz contra a gripe, mas não contra o novo coronavírus. A vacina reduziu a mortalidade em 10% e a hospitalização em 30%. Mas nem todas as vacinas são iguais. Existem duas vacinas: uma que segura só a gripe, e outra que protege contra a gripe e o novo coronavírus. A primeira reduzia a mortalidade em 20% e a hospitalização em 50%. A segunda protege contra a gripe, mas não o novo coronavírus. A OMS e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) recomendam a segunda, porque a primeira não previne a gripe do novo coronavírus. “Se a gente não tivesse a vacina, como a gente ia fazer para se proteger?”, pergunta.

E então, será que a IA está pronta para substituir o homem?

Pelo que pudemos brincar, dadas as limitações da ferramenta, como o fato de operar em português (e não em inglês) e não ter tido atualizações recentes pode ter colaborado para que os textos não tenham saídos com uma dose boa de precisão.

No nosso bate-papo com Gabriel Cantarin, questionamos o que ele acha disso, se a IA da OpenAI está pronta para ser redatora de um site de tecnologia. “Definitivamente não. Eu acredito que as tecnologias, em geral, tendem a continuar modificando as profissões, como já tem feito. Por exemplo A televisão não substituiu o rádio, a internet não substituiu a televisão. Novas profissões foram criadas e várias das antigas foram atualizadas utilizando novos recursos. Muito provavelmente, jornalistas vão utilizar dessas tecnologias para ganhar mais produtividade no dia a dia e conseguir redigir mais textos e de uma forma melhor”, opina.

Androides ainda vão demorar para sonhar com ovelhas, elétricas ou não (Imagem: Pat Krupa/Unsplash)

Quando foi lançada, a ferramenta foi ovacionada por ser precisa demais, ou quase perfeita. Isso por parte de falantes da língua inglesa. Descobrimos que não é bem assim: ainda que estejamos tratando de um super modelo de machine learning e IA que pode gerar textos, códigos, scripts e até programar jogos e escrever poesias, ficou claro que a máquina ainda não conseguiu sobrepor o potencial do homem — pelo menos no jornalismo. Aqui na redação do Canaltech, nós brincamos com o GPT-3 nos dois idiomas, mas publicamos os resultados em português para fazer mais sentido e dar entendimento.

Quando criamos modelos de texto em inglês, os resultados foram muito mais ricos e satisfatórios, muito embora também não tenham convencido tanto quanto a escrita feita por um ser humano. A API está em fase beta e vem sendo alimentada e cuidada por programadores e colaboradores, e com um conjunto monstruoso de dados que passa de 170 bilhões de parâmetros, não é difícil de acreditar que ela possa fazer muito mais do que quebrar um simples galho. Tem gente gerando jogos com ela. Há programadores brasileiros fazendo uso do algoritmo para criar desafios de palavra-cruzada.

Só para não fazer desfeita, a gente brincou de poeminha ao traduzir ridiculamente para o inglês a música Fogo e Paixão, do Wando, para ver o que a IA faria com o restante da letra. Eis o resultado:

you are light,

ray, star and moonlight

sunny morning

my iaia, my ioio

and with your iaia

we will go

and with your ioio

we will go. you are dewdrop

you are light

you are iaia

you are ioio

you are starlight

you are moonlight

you are sunlight

you are the dewdrop your house,

your door,

your bed,

your window

you are the one who comes

to my door

you are the one

that makes me happy

the one who wants

to have me.

Que poético, não? E assim, percebemos que o GPT-3 não é lá um grande jornalista, mas pode te ajudar a criar poemas, poesias e até compor músicas.

O que falta para a IA conseguir substituir um profissional?

O que será da IA no futuro? O que falta para ela amadurecer a ponto de trabalhar lado a lado com jornalistas em uma redação de site, jornal ou revista? Para Gabriel Cantarin, “a primeira variável é tempo, se considerarmos que em fevereiro de 2019 foi lançado o GPT-2 com 1,2 bilhão de parâmetros e em março de 2020 for lançado o GPT-3 com 175 bilhões de parâmetros, podemos facilmente presumir que em algum lugar no ano que vem uma possível nova GPT-4 pode surgir com algo na casa de trilhões de parâmetros e fazendo um trabalho absurdamente melhor”.

Outra consideração importante, segundo Cantarin: é esse tipo de tecnologia que realmente precisaria se tornar acessível. Apesar de a GPT-3 ser real e estar lançada, ainda são pouquíssimas pessoas que têm acesso a esse tipo de recurso, e menos pessoas ainda que podem e sabem utilizar desse tipo de tecnologia.

“De verdade, não acho que nenhuma tecnologia é capaz de remover os bons profissionais de nenhuma área, pois essas pessoas têm conhecimento que vai além da função de escrever um texto no dia a dia, como conseguir entender o que um entrevistado quer transmitir, ou o que o público deseja”, aposta o programador. “E, por último, temos que lembrar que ela foi treinada com parâmetros que existiam no passado. Todos os dias novas coisas são criadas e novas pautas surgem, então é sempre necessário que novas pessoas criem conteúdos diariamente, e não robôs”, conclui.