Embaixador dos EUA publica carta de despedida do Brasil

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Embaixador dos EUA publica carta de despedida do Brasil Todd Chapman agradece ao presidente Bolsonaro pelo avanço da parceria Brasil-EUA e diz acreditar no futuro do Brasil

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O embaixador Todd Chapman, que deixará o país neste domingo (25) Carla Carniel/Reuters - 25.06.2021

O diplomata Todd Chapman, embaixador dos Estados Unidos no Brasil, publicou carta de despedia, antes de deixar o cargo no próximo domingo (25). Ele agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro e a seus ministros pelo avanço da parceria Brasil-EUA e disse estar otimista em relação ao futuro do Brasil.

Em entrevista nesta sexta-feira, disse que o Brasil tem uma democracia sólida e instituições que funcionam e que não acredita em nenhum tipo de retrocesso nem em golpe contra a realização das eleições de 2022. O problema, segundo ele, é outro: “O câncer do Brasil é a corrupção”.

Aos 59 anos, Chapman não está apenas deixando a embaixada americana em Brasília, mas também se despedindo da carreira diplomática, na qual serviu em três governos democratas e três republicanos. Disse que é uma “decisão política, familiar” e anunciou que assumirá cargos na iniciativa privada e manterá contatos com o Brasil, onde nasceu seu filho mais velho, há 31 anos.

Veja a carta de despedida do embaixador Todd Chapman

Brasília, 23 de julho de 2021

Caros amigos brasileiros,

Esta é minha última semana como embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Não posso deixar esse país sem refletir sobre o quanto essa experiência significou para mim. Sou eternamente grato ao povo brasileiro por sua recepção e amizade, não apenas durante meu período como embaixador, mas ao longo dos 12 anos que passei aqui.

Eu me mudei para o Brasil pela primeira vez ainda quando criança, em 1974. Minha adolescência provavelmente tem muito em comum com a de muitos brasileiros. Ouvi MPB (Gal Costa e Djavan), troquei figurinhas de Carlos Alberto e Roberto Rivelino, e comi muito Sonho de Valsa e pão de queijo com meus amigos brasileiros, que guardo para o resto da minha vida. Essas são apenas algumas imagens, sons e alegrias do Brasil - um país com grande coração, grande força e grande futuro.

O coração do Brasil é seu povo. Brasileiros e norte-americanos compartilham história, valores e a nossa facilidade para tornar estranhos em amigos. Estamos culturalmente conectados.

Essa profunda conexão também nos faz sentir empatia quando testemunhamos o sofrimento um do outro. Lamentamos juntos pelas vidas que foram ceifadas pela Covid-19. Agora, nos unimos na esperança, à medida que o número de vacinas alcançam todos os cantos do Brasil, e continuamos juntos a combater essa terrível doença. Os milhões de dólares em doações do governo norte-americano de vacinas, ventiladores pulmonares, medicamentos e suprimentos fazem parte de uma parceria contínua que ajudará a nos tirar deste difícil momento.

Se o coração do Brasil é seu povo, a força é sua democracia. Como cidadãos das duas maiores democracias do Hemisfério Ocidental, compartilhamos o compromisso de promover e defender os valores democráticos globalmente. Ao viajar pelo Brasil, encontrei líderes emblemáticos em governos estaduais e municipais, empresários e inovadores, ativistas e jornalistas, além de pessoas dedicadas de todos os setores da sociedade. Essas pessoas não só têm lugar em uma sociedade democrática, como são essenciais para ela.

O futuro do Brasil é próspero. Com suas belezas naturais mundialmente reconhecidas e sua enorme abundância de recursos, o Brasil tem a oportunidade de liderar no combate às mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade. Estou confiante que o fará. Nas várias fases da minha vida no Brasil, sempre presenciei milhões de brasileiros sendo retirados da linha da pobreza e o desenvolvimento de uma economia caracterizada pela energia e inovação. Apesar da pandemia, conseguimos, juntos, realizar progressos concretos em iniciativas que promovem a prosperidade para brasileiros e norte-americanos. Gostaria de agradecer ao presidente Jair Bolsonaro, seus ministros e a todos os funcionários do governo brasileiro por sua cooperação produtiva no avanço da parceria Brasil-EUA. Estou otimista em relação ao futuro do Brasil e dessa relação.

Com a conclusão do meu período no Brasil, ao mesmo tempo chegam ao fim os 36 anos a serviço do governo dos EUA e do povo norte-americano. Quando comecei a minha carreira na seção consular em Taiwan, não poderia imaginar que um dia iria concluí-la como embaixador dos EUA no Brasil. É realmente a honra da minha carreira.

Assim como os brasileiros, minha esposa Janetta e eu prezamos por nossas relações com amigos e familiares, especialmente com nossos filhos Joshua e Jason e nossa nora Brooke. Embora seja bittersweet deixar o Brasil, nossas aventuras continuarão em Denver, Colorado. Baseado em nossa história pessoal, estaremos certamente de volta ao Brasil. Esse pode ser o fim de um capítulo, mas não do livro.

Muito obrigado ao governo e ao povo brasileiro por sua amizade e confiança. A gente se vê!

Todd Chapman

“O câncer do Brasil é a corrupção”, diz embaixador dos EUA

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Em sua última entrevista coletiva, antes de deixar o País, no próximo domingo, o embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, elogiou o presidente Jair Bolsonaro, disse que o Brasil tem uma democracia sólida e instituições que funcionam e que não acredita em nenhum tipo de retrocesso nem em golpe contra a realização das eleições de 2022. O problema, segundo ele, é outro: “O câncer do Brasil é a corrupção”.

Embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, em Brasília, Brasil 28/04/2021 REUTERS/Ueslei Marcelino Foto: Reuters

Perguntado sobre a manchete do Estadão desta quinta-feira, 22, relatando que o ministro da Defesa, general Braga Neto, endossou para o presidente da Câmara, Arthur Lira, a ameaça de Bolsonaro de que não haverá eleições sem voto impresso, o embaixador foi incisivo ao desconsiderar qualquer hipótese de golpe: “Para nós, a democracia é inegociável e este (o Brasil) é um país super democrático. Todos que fizeram previsão de que a democracia ia acabar no Brasil erraram sempre”, disse Chapman.

Ele não citou o PT nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal adversário de Bolsonaro em 2022, mas disse que, se há preocupação, não é com ameaças à democracia e à realização de eleições, mas sim “com mensalão, petrolão, Lava Jato”. A manifestação pode ser considerada uma tomada de posição indireta em relação à polarização política brasileira.

Para o embaixador, que reuniu os jornalistas para um café da manhã, a decisão brasileira sobre o 5G envolve questões não apenas comerciais, “mas de princípios”. E lembrou que, se a China, que oferece a tecnologia da empresa Huawei, é o maior parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos são o principal investidor. Usando dados de 2019, disse que os investimentos americanos aqui foram de US$ 145 bilhões, contra apenas US$ 28 bilhões da China.

“E o que deve pesar mais? A questão econômica ou as empresas que operam sob regimes autoritários, inclusive roubando propriedade intelectual?”, perguntou aos jornalistas, frisando que o governo brasileiro não deve decidir “com uma visão mercantilista”: “Esse é um alerta de amigo”, disse, relatando que tem conversado pessoalmente com vários ministros e visitou 14 estados brasileiros. Na quarta-feira, 21, por exemplo, se encontrou com da Economia, Paulo Guedes.

Chapman lembrou, ainda, que se há investimentos americanos no Brasil, há também de empresas brasileiras nos EUA, como a JBS, uma das maiores produtoras de carne in natura do mundo. “E na China, eles têm permissão de investir lá?”, acrescentou para falar várias vezes da “importante parceria” entre EUA e Brasil em diferentes áreas, como defesa, segurança, agricultura e meio ambiente.

Ele também disse que o Brasil tem muito a mostrar na área ambiental e pode ser tornar “o grande herói mundial do Meio Ambiente”, já na reunião da ONU para o Clima (COP) deste ano, mas de nada adianta mostrar os ganhos com energia limpa ou os compromissos do governo com investimentos e com o controle de emissão de carbono, se não mostrar resultados concretos numa área especifica: o desmatamento da Amazônia.

O pior momento da passagem de Todd Chapman por Brasília, em plena pandemia de covid-19, foi a transição do governo de Donald Trump para o de Joe Biden, principalmente pelas ligações que o presidente Bolsonaro alegava ter com Trump e pela demora do Planalto em reconhecer o resultado das eleições. O embaixador, porém, minimizou as dificuldades: “As relações são de Estado e nossos países têm vários interesses em comum, que evoluem muito bem”, disse.

Aos 59 anos, Chapman não está apenas deixando a embaixada americana em Brasília, mas também se despedindo da carreira diplomática, na qual serviu em três governos democratas e três republicanos. Diz que é uma “decisão política, familiar” e anunciar que assumirá cargos na iniciativa privada e manterá contatos com o Brasil, onde nasceu seu filho mais velho, há 31 anos.

Uma das saudades que a família levará do Brasil, segundo ele, é da bela casa alugada no bairro mais sofisticado de Brasília, o Lago Sul, onde habitam sete araras, seis pavões e outras variedades de pássaros. “Todos legalizados pelo Ibama”, frisou.

Embaixador dos EUA: Brasil deve “confirmar sua tradição democrática”

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Todd Chapman diz que golpe “não é o que está em jogo” e que corrupção é o “grande câncer” do País

O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, disse nesta 5ª feira (22.jul.2021), que todas as previsões de que a democracia no Brasil iria acabar deram errado. “Isso é o que esperamos que continue por muitas décadas, com legitimidade“, afirmou em café-da-manhã com jornalistas em Brasília.

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O embaixador foi perguntado sobre riscos de golpe de Estado no Brasil. Mais pontualmente, sobre a suposta declaração do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, de que sem voto auditável não haverá eleições em 2022. A mensagem de Braga Netto teria sido enviada ao presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), com respaldo dos comandantes das 3 forças, segundo o jornal O Estado de S Paulo.

Em resposta, Chapman disse que a “centralidade do sistema democrático” é princípio básico dos EUA e que o Brasil “compartilha essa prioridade desde 1985“. “Para se pensar em eventualidade e previsão, basta olha para a nossa história. [Golpe] não é o que está em jogo“, disse. “O que está em jogo é o debate, o diálogo.”

Para ele, o Brasil é uma “superdemocracia”, com instituições fortes e lideranças para “fazer a coisa certa: confirmar a tradição democrática do País“.

Chapman está de partida do Brasil, seu último posto na carreira diplomática. Ele seguirá para a iniciativa privada. Seu sucessor ainda não foi escolhido pela Casa Branca. A embaixada dos EUA será liderada enquanto isso pelo encarregado de negócios, Douglas Koneff.

Corrupção

Indicado pelo então presidente norte-americano Donald Trump em 2019, Chapman estabeleceu relação fluída com o Governo de Jair Bolsonaro. Para ele, o momento de maior preocupação para Washington foi durante os governos petistas, quando investigações de casos de corrupção eclodiram. Mencionou o Mensalão, em 2005, e o Petrolão.

“A corrupção é o grande câncer do Brasil“, disse. “Mas vemos que uma grande mudança aconteceu“, completou, para referir-se a “eficiência” com que o Governo de Bolsonaro estaria lidando com esse tema, com a ajuda dos Estados Unidos.

Perguntado sobre a investigação de uma quadrilha que vendia madeira ilegalmente extraída da Amazônia para os Estados Unidos, o embaixador disse apenas que os 2 países têm há muitos anos cooperação policial. Depois de os EUA informarem o Governo brasileiro sobre esses carregamentos, a Polícia Federal deflagrou a Operação Akuanduba, em maio.

O então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi um dos citados. O Supremo Tribunal Federal autorizou a PF a investigá-lo. “Não vou comentar”, disse Chapman.

O embaixador valeu-se da mesma resposta ao ser perguntado sobre possível investigação, nos Estados Unidos, da Davati Medical Supply. A empresa sediada no Estado do Texas teria autorizado representantes no Brasil a negociar com o Ministério da Saúde o fornecimento de 400 milhões de doses da vacina anticovid AstraZenica. O caso é investigado pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid, do Senado.

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